
Por Renata Gualdi
As marcas autorais, apesar de trazerem inovações para o mercado de moda, enfrentam obstáculos quando o assunto é gerar lucro significativo para as empresas. As razões que dificultam o desenvolvimento financeiro desses negócios nem sempre é clara, mas algumas das respostas podem estar na complexidade em encontrar harmonia entre produtos comerciais e conceituais.
Muitos empreendedores conseguem iniciar os seus negócios e apostar no sonho em ter a própria marca de moda. Segundo levantamento feito pelo Sebrae, com base em dados da Receita Federal, nos dois primeiros semestres de 2020 e 2021, mesmo com a pandemia do Coronavírus, quase meio milhão de brasileiros resolveram empreender na área de moda, 16,5% a mais que no mesmo período de 2018 e 2019. Os dados ainda apontam algo mais impactante: 90% desses empreendimentos são compostos por microempreendedores individuais (MEI).
No entanto, apesar de serem dados expressivos, microempreendedores também precisam lidar com outra realidade: são eles, ao lado das microempresas, que possuem a maior taxa de mortalidade no Brasil, de acordo com pesquisa divulgada pelo Sebrae em 2022. 29% dos microempreendedores individuais fecham após cinco anos de atividade, seguidos das microempresas, em que 21,6% fecham as portas e, por fim, as empresas de pequeno porte apresentam a menor taxa com 17%.
Quando falamos especificamente em marcas de moda, aquelas que são menores e possuem design autoral, acabam enfrentando alguns desafios específicos para sustentar seus negócios no mercado.
De acordo com a especialista, mentora e coordenadora da pós-graduação em Fashion Business da FAAP, Marília Carvalhinha, uma das principais dificuldades em prosperar com uma marca autoral está na carga conceitual do negócio e seus produtos.
“Analisando a moda por um viés de auto expressão, identidade e todo seu papel social e cultural, as marcas autorais possuem um papel fundamental no desenvolvimento dessa indústria. No entanto, olhando pelo viés mercadológico, quando o autor do negócio produz algo muito restrito e carregado de conceito, ele também está restringindo seus clientes em potencial”, pontua.
Para a especialista, essa restrição de clientes acontece pelos produtos apresentarem algo menos comercial e mais conceitual, o que pode ampliar a dificuldades dessas marcas em alcançar um bom número de vendas e também de fidelizar clientes.
“Do ponto de vista comercial, essa pode ser uma jogada difícil já que os clientes comprariam mais pontualmente. Para atrair consumidores seria necessário investir muito mais em marketing, nesse caso, o que seria complexo pelas limitações de investimento desses pequenos negócios”, esclarece a mentora.
Na pesquisa realizada pelo Sebrae sobre a taxa de mortalidade de pequenos negócios, também foi apontado que a maioria dos empreendedores realizou um planejamento de no máximo seis meses. 17% dos profissionais não fizeram nenhum planejamento, 59% fizeram até seis meses, 37% entre seis meses e dois anos e 11% planejaram por mais de dois anos.
Esses dados reforçam outro ponto levantado por Marília que acontece em diferentes empresas, inclusive nas de moda: a falta de compreensão do modelo de negócios como um todo por parte desses designers e criadores, uma vez que o ponto de vista artístico é mais trabalhado, enquanto as análises financeiras, mercadológicas e os processos operacionais não são desenvolvidos de forma estratégica.
“Se o designer/autor não se compreender dentro do ambiente concorrencial é difícil progredir a longo prazo. Existem riscos na inovação. Encontrar um caminho de equilíbrio entre o que é novo e o que os consumidores esperam é uma boa forma de obter bons resultados”, conclui a especialista.

Atuando como mentora para diversos empreendedores do setor e enxergando a dificuldade de muitos em compreender suas empresas como um todo, Marília Carvalhinha lançou o livro “Unboxing Negócios de Moda: Empreendedorismo, Planejamento e Gestão”. A edição traz um olhar 360° sobre os principais pilares desses negócios – marketing, operações e finanças – e aponta caminhos para analisar e agir de forma mais estratégica no mercado de moda.